sábado, 4 de setembro de 2010

ÀS MIL MARAVILHAS

Confesso que nunca fui muito entusiasta das votações que agora estão muito em moda para eleger “As 7 Maravilhas de…tudo um pouco”, especialmente quando o efeito mediático deixa muito a desejar e os resultados previsíveis são pouco mais do que…nada.
A vulgarização deste tipo de iniciativas, a rondar já o nível de uma certa saturação, tem até, em meu entender, o efeito perverso de vulgarizar também as maravilhas candidatadas.
As iniciativas deste tipo ou são acompanhadas de uma ampla mediatização que as levem a ser conhecidas e adoptadas por um público vasto ou então não passam de um exercício intelectual sem quaisquer efeitos práticos, ressalvando naturalmente as eventuais boas intenções de quem as promove.
Foi assim com a eleição das “7 Maravilhas de Estremoz” e vai ser assim com a actual votação para as “7 Maravilhas do Alentejo”, promovida por um “site” na Internet e a que aderiram algumas Câmaras Municipais do Alentejo, no total apenas 15 dos 47 concelhos alentejanos dos Distritos de Portalegre, Évora, Beja e Setúbal, ficando de fora, por exemplo, concelhos como Évora, Beja e Mértola cujo importante Património é por demais conhecido. Não duvido que os promotores da iniciativa gostariam de poder contar com um leque mais alargado, preferencialmente todas, mas ao limitarem a listagem à livre adesão das Câmaras Municipais correram o risco de deixar de fora algumas das mais representativas maravilhas do Alentejo e de comprometeram logo à partida o significado e abrangência desta eleição.
A listagem deveria ter sido elaborada com base em critérios científicos, históricos e patrimoniais e deveria no mínimo ter a suportá-la uma Comissão Técnico-científica reconhecida. Se não havia condições para fazer isto, então melhor era não o fazer.
E assim temos uma lista de 30 monumentos e sítios (2 por cada Câmara Municipal aderente), alguns dos quais nunca apareceriam numa lista dos 300 melhores, caso a lista fosse elaborada com outros critérios. Por exemplo, a Igreja Matriz de Arronches, minha terra natal, sendo um bom exemplo de talha dourada, nunca apareceria em tal lista.
Depois, se algumas Câmaras Municipais se podem orgulhar do Património que candidatam pelo muito que fizeram pela sua preservação e valorização, como é o caso de Reguengos de Monsaraz que candidata a vila medieval de Monsaraz, de Marvão que candidata a sua bela Fortaleza ou Nisa com os seus belos alinhavados, já é menos líquido que outras possam reivindicar tal orgulho e, de entre estas, está claramente a Câmara Municipal de Estremoz quando candidata o Castelo de Évora Monte.
Ao princípio soou-me um pouco a ridículo, sabendo eu que, pelo menos nos últimos 10 anos, não houve qualquer acção, actividade, reivindicação séria ou iniciativa por parte da Câmara Municipal de Estremoz que promovesse a recuperação, a valorização e a animação de um centro histórico desta dimensão patrimonial. As Comemorações em 2006 dos 700 Anos do Castelo de Évora Monte (Muralhas e Portas Dionisinas) é a excepção que confirma a regra, mas mesmo estas foram realizadas durante a gestão do anterior executivo e não do actual, responsável por esta candidatura.
Mas a campanha lançada pela Câmara Municipal com placards, cartazes profusamente distribuídos e aquela frase “Estremoz tem mais Património” abriu-me os olhos.
Na verdade, esta eleição das “7 Maravilhas do Alentejo” , para alguns, vem mesmo calhar às… MIL MARAVILHAS, porque permite dizer que se fez…sem fazer absolutamente nada.
JÁ VOTEI! No Castelo de Évora Monte, claro.
Apenas na esperança que, de futuro, seja tratado como merece e não como objecto de propaganda política.

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